4 de janeiro de 2012

anonovo


E se
o ano novo
fosse realmente uma novidade
e não apenas a repetição
de um rascunho esquecido na gaveta
do armário antigo
no quarto de hóspedes...

Que surpresa seria
se a memória fosse feita de borracha
elástica, flexível, domesticável
e não essa cobra viva
e traiçoeira
que invade o presente
e faz sombras na esperança...

Imagine só
quanta alegria, que vitória seria
aprender com o errado
para evitar os mesmos buracos
os retratos sempre rasgados
as malas feitas
e as fugas na meia-noite dos dias...

Ah, se
o desengano não rasgasse a carne
e o medo não cegasse os sentidos
para que o remorso evaporasse
no vácuo da solidão
e a dor virasse pó
nas estradas compridas do tempo...

E se
a felicidade não assustasse
e fosse realmente simples
desejar, mirar, atirar
e apostar na sorte
já que o acaso parece mesmo ser
quem de fato dá as cartas...

E se
num átimo de segundo
o peso da culpa evanescesse
os nós se desatassem
e as velas inflassem
para que as embarcações ganhassem mar alto
ainda que feitas apenas para os rios...

Quanta beleza seria
se fosse fácil fazer poesia
para dar boas-vindas a quem chega
e um adeus decente a quem vai
para espaventar receios
desvendar clareiras
e abrir as janelas para o sol...