4 de janeiro de 2012

anonovo


E se
o ano novo
fosse realmente uma novidade
e não apenas a repetição
de um rascunho esquecido na gaveta
do armário antigo
no quarto de hóspedes...

Que surpresa seria
se a memória fosse feita de borracha
elástica, flexível, domesticável
e não essa cobra viva
e traiçoeira
que invade o presente
e faz sombras na esperança...

Imagine só
quanta alegria, que vitória seria
aprender com o errado
para evitar os mesmos buracos
os retratos sempre rasgados
as malas feitas
e as fugas na meia-noite dos dias...

Ah, se
o desengano não rasgasse a carne
e o medo não cegasse os sentidos
para que o remorso evaporasse
no vácuo da solidão
e a dor virasse pó
nas estradas compridas do tempo...

E se
a felicidade não assustasse
e fosse realmente simples
desejar, mirar, atirar
e apostar na sorte
já que o acaso parece mesmo ser
quem de fato dá as cartas...

E se
num átimo de segundo
o peso da culpa evanescesse
os nós se desatassem
e as velas inflassem
para que as embarcações ganhassem mar alto
ainda que feitas apenas para os rios...

Quanta beleza seria
se fosse fácil fazer poesia
para dar boas-vindas a quem chega
e um adeus decente a quem vai
para espaventar receios
desvendar clareiras
e abrir as janelas para o sol...

7 comentários:

  1. E se
    o acaso estiver certo
    com o coração aberto
    dermos a oportunidade
    para o novo, que nos convida
    ainda com medo da vida
    para o Amor...

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  2. Olha só, Daniel, meu amigo! Eu jamais pensaria que você tem lá suas poesias. Lindo, de verdade. Abraço grande!

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  3. Luiz André6.1.12

    Seu belo poema me lembrou um texto de Mario Quintana: "O bom das segundas-feiras, do primeiro de cada mês e do Primeiro do Ano é que nos dão a ilusão de que a vida se renova... Que seria de nós se a folhinha estivesse marcando hoje o dia 713.789 da Era Cristã?"

    A gente recomeça o tempo todo. Não só a cada ano, mês ou dia, mas também a cada momento, a cada inspiração. A gente exala, pronto!, e no instante seguinte inspira - e começa tudo de novo.

    Engraçado: a gente precisa recomeçar sempre, mesmo que tudo pareça igual.

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  4. Luiz André, meu querido, eu gostei tanto do seu comentário, mas tanto, que vou escrever uma crônica somente sobre ele. Obrigada. Comente sempre, sempre.
    Abraço grande!

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  5. Marcelo, que bom que você voltou!
    Ótimo ler uma linha sua aqui, que é uma casa para mim. Venha sempre, comente sempre.
    Beijo grande!

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  6. Leitor Atento do Seu Blog6.7.12

    Uma pena você ter abandonado o seu blog. Gosto dos seus textos.

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