2 de dezembro de 2010

as olívias



Email encaminhado, apresentações em PPS e correntes de email solidário são a tortura máxima do universo virtual contemporâneo. Não há nada mais chato do que acessar sua caixa de entrada e deparar-se com uma mensagem que o irmão do tio, da prima, do colega, do cunhado, da enteada, da sogra, do seu amigo no orkut mandou para você, simplesmente porque o seu endereço eletrônico estava lá, às traças, e o remetente cometeu a gafe tecnológica de escolher a opção "incluir todos os contatos". Quer dizer, ser contato de alguém nas páginas de relacionamento e no messenger não garante a ninguém exclusividade e, pior, não significa que o dono da lista de contatos de fato conheça você. Eu, por exemplo, posso ser considerada uma aberração da natureza cyber. Tenho quase duzentos contatos no messenger. Destes, conheço, de verdade, no máximo dez (alguém como eu não tem a menor chance de conhecer duzentas pessoas. Isso seria socialmente impossível para mim). Dentre esses dez, converso com três pessoas, cinco, na mais otimista das hipóteses, isso quando acesso o MSN ou me digno a selecionar a opção "visível para todos os contatos". Como sites de relacionamento a exemplo de orkut, facebook e myspace - para ficar apenas com os que eu conheço; deve existir no mínimo o dobro desses sites em funcionamento - automaticamente "importam" os seus contatos e, via de regra, acabamos adicionando as pessoas sem muito critério ou rigor - afinal, quem ainda leva orkut a sério? - ficamos todos enredados e conectados virtualmente, num processo de retroalimentação semiótico digno de uma tese para fanáticos por Pierce. Entretanto, nunca tivemos tantos contatos e conhecemos tão pouco, ou quase nada, deles.

Por isso, email encaminhado é algo tão inconveniente. Ocorre que encaminhar um email, incluindo todos os seus contatos, pode ser não apenas muito chato, mas trágico. Imagine o seguinte cenário: um sacana, espírito de porco, fica sabendo que seu colega Z está traindo a esposa X com uma amiga em comum, Y. Pior. Ele não fica apenas sabendo da traição, mas decide também tirar uma foto dos pombinhos se amassando num bairro isolado com o seu IPhone. Como a internet está ali, a um touch screen do nosso anti-cristo em potencial, ele resolve mandar a foto recém tirada para uns colegas farristas e dividir com eles essa informação super quente. Como se não bastasse, nosso cara de pau fundamental ainda resolve encaminhar o email com a foto. Afinal, onde uma pessoa sabe de uma fofoca, cinco podem saber também, certo? Ao encaminhar o email, nosso exterminador de adúlteros do futuro inclui todos os seus contatos. Claro que ele não repassa seus contatos um a um. Quem em sã consciência repassa os contatos quando encaminha um email, uma apresentação em PPS ou uma corrente solidária? Pronto. Está armado o circo do terror do Google. Nosso sacana-mor esqueceu que, desde que abrira essa conta de email, fazia parte de seus antigos contatos X, a esposa traída, humilhada e que em nada desconfia da paixão fulminante entre seu marido, Z, e a vadia do momento, Y. Ou melhor, que em nada desconfiava. Porque, nesse momento, incauta diante de seu notebook Samsung vermelho-cereja, ela constata que recebeu um email de um velho conhecido, W, o pentelho da nossa história. Já imaginou? Esse cenário apocalíptico pode até ser pouco provável, mas não impossível, nessa roda viva de contatos, emails e correntes em que vivemos. Por essas e outras, eu não encaminho emails. E, caso veja as três letrinhas do mal, "Fwd", nem abro a mensagem. Por medida de precaução e tentativa de preservar minha exclusividade, de alguma forma.

Ocorre que, hoje, fugi à minha própria regra. Recebi um email encaminhado de uma velha amiga, mas confesso que só abri a mensagem porque, na descrição do assunto, ela escreveu: "Roberta, esse vale a pena. Não deixe de ver". Quer dizer, a mensagem era encaminhada, mas pelo menos minha amiga teve a decência de se dirigir à minha pessoa, exclusivamente, no cabeçalho do email. Pode ser que eu sofra de certa neurastenia virtual pós-moderna da era digital, afinal nunca se sabe que tipo de males estranhos e recalcitrantes podem acometer um cidadão respeitável hoje em dia. Mas, ao final, valeu a pena ter aberto pelo menos um email encaminhado. Era o vídeo dessa trupe de mulheres conhecidas como "As Olívias", que fazem sucesso na internet com suas sketches impagáveis. Minha amiga encaminhou o vídeo que você confere lá no início para uns cem contatos, todos mulheres. E dizia assim: "Meninas, nossa revanche contra as cantadas em canteiros de obras". Valeu pela gargalhada. Como não posso burlar minhas próprias regras mais do que o aceitável, recuso-me a encaminhar o vídeo para os meus cento e pouco contatos fantasmas. Então, posto aqui no blog. Se você for mulher, vai rolar de rir. E se não for, vai dar boas risadas com os trejeitos únicos das moças do vídeo. Agora, se for pedreiro... Bem, aí já fica um pouco mais complicado para agradar.

Um comentário:

  1. Hey ya!
    eu tbm gostei do vídeo. =)
    saiba, mocinha, que já sabia desse seu horror de email encaminhado, e qdo passo algo pra vc, é pq penso que vc pode se identificar com o conteúdo, viu?!

    bjoo

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