4 de dezembro de 2010

velha estrada nova

A vida da gente é vagão...


... que às vezes desembesta e sai dos trilhos.


Mas, enquanto houver uma praça, numa cidadezinha hospitaleira...


... com gente amada e poentes tranqüilos como companhia... 


... ficará mais fácil apreciar as paisagens que a vida revela, de tempos em tempos.


Porque a vida, vagão que desgoverna, também é estrada que conduz.


E às vezes, numa curva ou outra do caminho, a gente até tem a sorte de virar flor.


Enraizar e colorir os caminhos do mundo, como crianças com giz de cera, pintando o céu com o anil mais efervescente da paleta.


 E colorir, pintar e escapar às margens da tela não é fácil num mundo que nos molda e modela tanto.


Mas, no fundo da cabine, tem sempre um broto teimoso, que a gente nem suspeitava mais poder existir.


E, a despeito da noite que cresce dentro do peito, o sol nunca pede permissão para nascer e brilhar.


Então, se ele ofusca nossos olhos de toupeira, a gente caça uma sombra para se refugiar, mesmo que só por um tempinho, até a alma acostumar com a claridade.


E, enquanto descansamos da caminhada, respiramos fundo, para contemplar as curvas que a vida faz.


Porque, pensando bem, há vida até onde não se vê vida e nem se conta com a existência dela.


Embora tudo seja uma questão de saber olhar e enxergar vitalidade nas coisas mais simples e estranhas aos olhos, sob os ângulos menos convencionais.


E, acima de tudo, buscar o sol sempre, doa o quanto doer.


Mas é preciso também aparar as farpas que aprisionam a alma e dilaceram a carne da gente.


Porque, afinal, não somos gado, nem ave que tem asas mas não pode levantar vôo. 


E só mesmo o bicho-homem, certo de quem é, consegue ver cor, vida, beleza e continuidade na estiagem do solo inóspito e estéril do caminho.


E qual não é nossa surpresa quando a gente se descobre verde num campo árido e sem cor!


O que não dá é para ser apenas uma sombra do que já se foi...


Nem estanque sobre um solo arenoso, feito um bando de pedras a rolar.


O que é fundamental, mesmo, é ter coragem para (re)florescer, ainda que haja riscos envolvidos nisso, como ervas-daninha, intempéries e a solidão dos invernos.


É preciso coragem até para encarar o por de sol de frente, um após o outro, até o dia em que a gente não vai estar mais lá para vê-lo nascer.


E, acima de tudo, é preciso persistência e uma força de guerreiro para continuar seguindo essa estrada imprevisível que a gente chama de "vida".

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