15 de abril de 2011

ao leitor

O Expresso começou a rodar em 25 de setembro de 2010. Quando surgiu, chamava-se "Trens e Balões", uma tentativa quixotesca de reunir no mesmo vagão as características mais paradoxais de um indivíduo: a capacidade de ganhar altitude e sobrevoar além do horizonte perceptível e a necessidade de enraizar a vida em linhas paralelas, seguras e mundanas. Então o "Trens e Balões", por razões mais pessoais do que mercadológicas, pesou mais para o lado das locomotivas, separou-se do ar quente que lhe inflava e alçava ao etéreo anil e inconstante e virou expresso. Desde então este comboio fez 175 viagens em 203 dias, 42 delas apenas no mês de outubro de 2010; já teve três maquinistas e, hoje, conduz 39 passageiros cativos, que se registraram como seguidores. De acordo com relatório do Google Analytics, o Expresso recebeu, no período entre 13 de março e 14 de abril de 2011,  660 visitas, com uma média de 2,4 páginas por visita.

Mas a cereja do bolo são os comentários dos leitores: 409 até o momento em que estas linhas são redigidas. O filósofo francês Roland Barthes afirmava que um escritor não tem passado porque nasce com o texto. Ele execrava a idéia de um "autor-Deus", auto-suficiente, que se bastasse em si mesmo; assim, entende-se que os horizontes interpretativos de um texto devem estar abertos para o leitor ativo. O ensaísta argentino Jorge Luís Borges ia mais longe: para ele, um escritor sem leitores é inexistente na medida que nasce e morre encarcerado pelos próprios limites, numa implosão de vazio e ausência de eco.

Publicar um romance ou uma antologia de crônicas e contos nunca fora uma meta para mim. Um sonho, certamente; afinal, não escrevo apenas para o meu deleite pessoal e manutenção psíquica. Escrevo para que minhas palavras tenham sentido completo em seu destino primordial: a compreensão e a interpretação do leitor. A megalomania não me cabe de fato, mas o eco é um desejo perene e pulsante da faceta que abarca o meu eu literato.

Aos leitores do Expresso, esse trem cujas viagens reforçaram-me os contornos da identidade, abriram portas há muito lacradas e mantiveram-me o ego preservado em meio a intempéries, meus agradecimentos jamais seriam suficientes. Esta locomotiva gira por mim, mas é para vocês e em vocês que o seu destino ganha significado e cresce em importância. Imagino que assim fica mais fácil para que entendam porque 409 comentários seus são como braçadas de louro para mim, o espelho das palavras do leitor através do qual enxergo melhor a mim mesma e ao outro, a realização máxima do trabalho de espiar a vida e (re)escrevê-la depois. Obrigada, amigos. Por visitar, seguir, cadastrar-se e comentar no Expresso. A gente se encontra na próxima viagem, nas paradas de cada nova estação.

4 comentários:

  1. ahuahau... que danada! Você soube usar o Analytics! É muito massa neh? Nada comparado aos comentários, lógico.
    Um pouquinho mais de trabalho burocrático e vc consegue um patrocinador ou algum incentivo público. Já pensou em viver e sobreviver nesse trem?
    O símbolo disso é muito parecido com o da minha banda... e é lindo!

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  2. Custou, mas até que eu aprendi, viu? Trabalho burocrático, Matheus? Ui, que medo. E quanto a viver e sobreviver do trem... Será? Enquanto isso ainda mora apenas no plano das idéias, vou curtindo os comentários de vocês. Abração!

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  3. Alberto Lacerda15.4.11

    Nos embarques e desembaques da vida,numa dessas estações,conheci uma maquinista,que me convidou pra viajar em seu expresso,e me levou para uma fantástica viagem.Desde então,todos os dias,volto nesta mesma estação ,em busca de mais uma fascinante viagem.E a cada desembarque,admiro cada vez mais essa espetacular e surpreendente Maquinista.
    Parabéns Roberta, seu Expresso é um Sucesso!!

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  4. Se o Expresso é um sucesso, Alberto, é porque tem leitores cativos como você e que comentam os textos. Obrigada, amigo. Bom saber que, de alguma forma, esse trem faz parte da sua vida.

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