24 de setembro de 2010

A Romã e os Gigantes

Era uma vez uma semente de romã que achou que podia florescer no quintal de um antigo castelo de um reino de gigantes de pedra. Então, a semente fez as malas, deixou seu pomar e partiu para o castelo mais fortificado que já conhecera.


Lá a semente aprendeu muitas lições importantes, mas não sem perder um pouco de sua graça de fruta mediterrânea; descobriu que sementes leves e pequeninas não devem se espelhar em rochas grandes e monolíticas; entendeu que ser-vivo algum sobrevive à sombra de árvores gigantes sem luz, sem alvorada, sem identidade. E aceitou, a seco, que contos de fadas realmente não existem. Pelo menos não para sementes de romã e gigantes de pedra.


Para sua própria surpresa, a sementinha rompeu o solo e se transformou num pequeno pé de romã, totalmente deslocado no quintal do castelo, balançando debilmente em meio às ventanias do reino. Foi aí que a planta percebeu, meio que por magia, que as paredes do castelo já haviam há muito ruído e que, ao seu redor, restavam apenas pedras, entulho, poeira e caos. Em sua surpresa e nostalgia, a plantinha não deixou de se perguntar se as rochas enormes e cheias de visgo que via a sua frente seriam apenas a estrutura desabada do castelo ou algum antigo gigante-castelão.


Mas, àquela altura, o pezinho de romã já tinha criado raízes profundas no solo arenoso e a semente, agora, era só mais um tristonho vegetal daquele reino de gigantes de pedra. E quando tudo, absolutamente tudo parecia estático e mudo, eis que o pezinho de romã deixa cair ao solo seu único fruto – vermelho, reluzente, prenhe de possibilidades – e este, rachando-se de maduro, libera da polpa rósea dezenas de minúsculas sementes translúcidas. Umas logo viajam para longe nos pelos das patas de um cão trigueiro; outras voam para o desconhecido no bico e penas de uma sabiá cantadora, enquanto outras rolam ao sabor da ventania do norte. Mas nem uma única sementinha, veja bem, desta vez, se prendeu ao solo de titãs.


pro meu filhote, a semente mais preciosa que eu já plantei.

Um comentário:

  1. e outras romãs nascerão...

    e pode ser que elas enxerguem a romã pioneira que nasceu à sombra de pedras como um grande orvalho robusto.

    ;)

    ResponderExcluir