30 de setembro de 2010

Vinte e Uma Verdades Absolutas e Absolutamente Contestáveis



1.    “Homens são de Marte, mulheres são de Vênus”.
Somos, ambos, do mesmo planeta e falamos a mesma língua. A diferença é que homens, quando meninos, brincam melhor com Lego e mulheres, desde meninas, falam demais e têm senso espaço-direcional muito pior.

2.    “Mertiolate arde pra cacete”.
Não arde mais, desde que o fabricante mudou a fórmula, há mais de 15 anos, para clorexidina pura. Agora, ele é só um anti-séptico inofensivo, e nem adianta tentar fazer medo em criança com ele.

3.    “Pai e mãe estão sempre certos”.
Pai e mãe são gente igual a seus filhos, passíveis de falhas. Essa “verdade” só cola até a gente sair do segundo-grau e começar a bater de frente com eles, e ver que não são e nunca nem quiseram ser totens. Apenas humanos. Pais que tentaram criar um indivíduo melhor para um mundo que, às vezes, não é melhor. Humanos que erram, mas que amam. E nem sempre estão certos, embora queiram sempre o melhor para os seus filhotes.  

4.    “Devagar tudo se alcança”.
Você pode até caminhar devagar para alcançar seus objetivos, mas às vezes, se não der uma corridinha, vai perder o trem e ficar para trás de quem foi mais esperto e apertou o passo. Então, caminhe sempre. Ficar parado cria lodo e limo, e a gente acaba virando gárgulas em tetos de catedrais. Mas, nessa caminhada, altere as marchas. A gente pode fazer isso porque somos movidos a câmbio manual, e não automático, daqueles que vão passando as marchas à nossa revelia. Cambiar sua caminhada dá mais fôlego, mantém o motor da gente “cheio”, respondendo rápido. 

5.    “Coca-cola desentope pia”.
Coca não desentope pia, nem nariz. Também não tem cocaína na fórmula e aquela história de que um trabalhador da fábrica de Chicago caiu num tanque pronto para engarrafamento, foi cozido e todo mundo bebeu o refri sem sentir o gostinho do camarada, é a maior balela de todos os tempos. O único mal comprovado cientificamente que a Coca faz é acelerar o processo de descalcificação óssea, também chamado de osteoporose. Se você bebe muita coca, então, tome uma pílula de Carbonato de Cálcio com vitamina D3 por dia.

6.    “Melhor um pássaro na mão do que dois voando”.
Melhor nenhum pássaro na mão do que ter, em mãos, um pássaro que não é o seu, que não canta e que é arisco. Mãos vazias, por um tempo, é uma boa tática até você conseguir o que realmente quer e precisa.

7.    “Ele(a) dorme como um bebê”.
Quem diz isso nunca teve bebês em casa, com cólicas às três da madrugada e/ou acordando a cada três horas para mamar.

8.    “Mulheres são péssimas motoristas”.
Há exceções. Mulheres são acomodadas quando se trata de dirigir, e preferem passar o volante para um companheiro e ficar se maquiando ao espelhinho do quebra-sol. Isso quando se atrevem a dirigir longas distâncias. Mas, boas ou más motoristas, mulheres têm senso de direção basicamente detonado. Por isso, amigas, usem mapas. Ou um GPS. Ou então, o que é muito mais divertido, vá parando no caminho e pedindo informações.      

9.    “Toda mulher nasceu para ser mãe”.
Maternidade é um sentimento que nasce com a mulher junto com seu filho, e vai se construindo e solidificando à medida que o bebê vira criança e, de criança, adulto. Mas muitas mulheres preferem trabalhar, morar sozinhas e ter cães e gatos.

10.  “Os opostos se atraem”.
Isso se aplica apenas à lei do eletromagnetismo. Com amigos, sócios, namorados, amantes e afins, o melhor mesmo é procurar quem tenha gostos e atitudes semelhantes aos seus. A diferença acrescenta e enriquece o universo individual, mas na convivência diária, cria atritos irreparáveis.

11. “Discos de vinil têm som melhor do que CD’s”.
Isso é muito descolado para se dizer se você tiver uma coleção de mais de duzentos exemplares, mas desde que a Phillips parou de fabricar agulhas de diamante, o som dos álbuns de vinil é bem ruinzinho e, vamos combinar, o chiado tira o charme de qualquer sinfônica e/ou banda de rock.

12. “É preciso fotografar. Sempre. Cada momento”.
Sair com uma câmera na mão, em férias de família, por exemplo, querendo registrar cada “Kodak Moment” e mandando a galera posar e dizer “xiz” a cada dez minutos acaba quebrando o encanto da coisa. Tem imagens que a gente registra é na memória, e mais, no compartimento sentimental da memória onde, além da cena, moram os cheiros, os sabores e a saudade. E isso, nenhuma Cannon dá conta de registrar. Então, a passeio, observe mais as cenas com as suas próprias “lentes”, e não através de lentes objetivas.

13.  “Discutir o relacionamento, sempre, é essencial”.
Só se você quiser um divórcio ou acabar o seu namoro em tempo recorde. DR’s são chatas, embaraçosas, tomam tempo e os envolvidos acabam falando demais. Discuta apenas o necessário, para cruzar pontes e não voltar pelo mesmo caminho. No mais, deixe as almas e os corpos se comunicarem, com pequenos gestos diários, silêncios preenchidos de significado, rotina saudável. Deixe a DR para o seu analista, se você tiver um.

14.  “Meus amigos são minha família”.
Não, seus amigos são seus amigos, que você escolheu integrar à sua vida. Sua família é sua família, a qual você pertence querendo ou não. A questão é que seus amigos também têm as famílias deles e, eventualmente, podem partir. Você pode até desertar de sua família, mas dificilmente as portas estariam fechadas, caso você retornasse. Se estivessem fechadas, é porque você deu azar e, nesse caso, é mesmo melhor que você adote amigos como família. Para mais informações, assista ao curta “Patinho Feio”, de 1936.

15. “O tempo cura/apaga todas as feridas”.
Tempo não é band-aid, esparadrapo, Terramicina, nem Nebacetin. Tempo é uma fita métrica, que, à medida que vai se esticando para longe de nós, ou melhor, nós dele, deixa os fatos do passado tão distantes que a gente os vê como vê as pessoas do alto de uma asa-delta: um bando de formiguinhas, indistintas. As feridas do passado continuam, em forma de cicatriz. No início, porque a fita métrica do tempo correu pouco, dói ao menor roçar dos dedos. Depois, como toda cicatriz, torna-se insensível ao toque. E tem que ser assim porque, se a gente expuser a alma com cicatrizes vivas, é porque elas ainda são feridas abertas, e acaba-se tornando alguém amargurado, disforme.

16. “Para curar um amor perdido, só mesmo um novo amor adquirido”.
Balela. Para curar um amor perdido, só mesmo um tempo de solidão, como o urso hibernando no inverno, para a gente catar os cacos de si mesmo, montar tudo outra vez e se mostrar novamente para o mundo como um ser inteiro, e não facetado pela dor. Se você embarcar nessa, vai usar o tal “novo amor adquirido” como muletas, que nenhum aleijado ama de verdade, mas usa porque precisa delas. Ruim para você, que cai num engano doloroso, pior para ele(a), se descobrir que um dia nem foi amado de verdade.

17. “No amor e na guerra, vale tudo”.
Vale tudo desde que você não engane a si mesmo, nem ao próximo. Na verdade, eu nunca entendi muito bem porque esse ditado usa “amor e guerra” na mesma sentença. Deve ser porque toda guerra é, ou deveria, ser imbuída de paixão, não é? Então, se no amor e na guerra tudo valer, vale também aniquilar o outro, escravizar, desumanizar. E isso, pense bem, não pode valer.

18. “Até que a morte os separe”.
Só se você, numa relação vazia de sentimentos, mesmo que “socialmente” estável, preferir morrer em vida antes mesmo de partir desta para melhor. Recomeçar é um direito universal, porque a história da gente não começa com final pronto; vai-se escrevendo, cada um de nós, passo a passo, e dá para, no meio do livro, repensar o enredo e partir para um final diferente. Mas o final, de verdade, quem vai contar não é você, mas seus filhos que presenciaram sua história encenada, e seus poucos, verdadeiros amigos. Ou seja, não dá para saber o final de nada, até se chegar até lá. E tentar. E essa é a beleza da vida. Reescrever, recomeçar, reaprender, recriar, reciclar.

19. “Vontade é coisa que dá e passa”.
Isso é desculpa que a gente usa quando enterra um sonho, deixa de aproveitar uma oportunidade pelo medo de abrir uma porta ou perde um trem porque estava parado no caminho ou andando feito uma lesma. Vontade é aquela comichão na alma que atesta nossa vitalidade. Sem vontades, somos robôs, meros zumbis caminhado em frente com tapa-olhos, para não ver como o horizonte é imenso. Então, vontade dá, sim, e a gente tem duas opções quando ela surge, lá no fundo de nossas entranhas: fazer o que está ao nosso alcance para fazer da vontade um objetivo, do objetivo uma meta e, de meta, um acontecimento real. Ou, como segunda alternativa, ignorar a comichão, fazer mil coisas para mover o foco, não abrir aquela porta nem aquela janela e “enterrar” a vontade. Mas, acredite, ela não passa. E muitas vontades enterradas no terreno fértil que é nosso coração, podem um dia emergir, dando um baita susto na gente. Mais informações, assista ao clip “Thriller”, do Michael Jackson.

20. “Somos todos iguais, perante de Deus”.
Eu nunca vi Deus nem nunca falei com alguém que tenha levado um papo com Ele. Mas, NÃO perante a Ele, que é aqui, no dia-a-dia da vida, somos todos diferentes, únicos, cada um com uma “doideira”, a idiossincrasia que faz de nós aquela pessoazinha especial, sem a qual aqueles que nos amam não sabem viver. E é direito nosso ser diferente, fazer uma virada em “U” e seguir para o sul, ao invés do norte. E por sermos, todos, diferentes um do outro, temos a obrigação de tratar o outro como acreditamos que merecemos ser tratados: com exclusividade. Nem numa manada de bois brancos para corte, ou entre mil zebras, todos são iguais. E o bom criador sabe como tratar cada um de seus bois. Mas a gente não é gado, nem zebra. E se cada um de nós tratar o outro com exclusividade, como gostaríamos de ser tratados, no final e ao cabo seremos todos tratados de maneira justa e igualitária. Mas, cada um na sua, com alguma coisa ou nada em comum.

21. “Tudo é relativo”.
Bem, em tese, tudo é de fato relativo, até as verdades ditas absolutas. O problema é quando “relativizar” costuma virar um hábito para fazer a humanidade engolir barbáries a seco. Isso costuma acontecer muito com antropólogos, que relativizam toda e qualquer prática cultural. Sofisma. Balela. Touradas não são relativas; rinhas de cães e galos não são relativas; terrorismo e a “guerra ao terror” não são relativos; mulheres com as genitálias mutiladas, sendo apedrejadas por adultério e usando burcas, isso não é relativo; meninos que moram em favelas e idolatram os donos das “bocas”, seguindo-nos como exemplo de sucesso, também não é relativo; meninas japonesas tendo seus pés enfaixados e os ossos deformados, para se tornar gueixas perfeitas, não é relativo; comer barbatanas de tubarão e cães exóticos porque as ditas “iguarias” aumentariam a virilidade masculina, não é relativo; matar focas e outros animais para usar-lhes a pele como adorno, não é relativo. Enfim, nenhum desses hábitos culturais ditos “relativos” vai de encontro à evolução social e cultural da humanidade, ao contrário, estão na via da desumanização. E desumanizar não pode – nem deveria – ser relativo.

2 comentários:

  1. olhe, mas que eu brigo com algumas verdades aí, ahh, eu brigo!
    como a verdade número 1:a gente até aceita, mas vai se acostumar...!

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  2. Será até quando a gente vai brigar com essas verdades, amiga? Dá uma canseira, às vezes...

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