14 de novembro de 2010

1900


Em Milan Kundera, o amor nasce de uma metáfora, ou de uma rede de coincidências que visualizamos para enxergar a beleza da vida. Assim, Thomas começa a amar Tereza no momento em que ela, de mulher, transforma-se numa metáfora do bebê abandonado ao rio numa cesta, que Thomas precisa resgatar e cuidar. Da mesma forma, Tereza passa a amar Thomas quando, "por coincidência", toca Beethoven no momento em que ele entra no bar onde ela trabalha, trazendo um livro em mãos. Para Tereza, Beethoven e livros são símbolos de uma fraternidade única, à qual ela sempre almejou pertencer. 

Kundera também afirma que a vida de cada indivíduo é uma partitura musical única. Como em toda partitura, cada um de nós tem um tema musical próprio, e vai regendo a vida, voltando sempre ao tema principal, derivando movimentos sobre ele, improvisando outros, mas sempre seguindo e retornando ao tema.

O italiano Giuseppe Tornatore dirigiu, em 1998, aquele que é um dos filmes mais tocantes, sensíveis e densos já produzidos na atualidade, "A Lenda do Pianista do Mar". O protagonista, um virtuose do piano que foi abandonado pela mãe num navio transcontinental, criado por um maquinista e que nunca pôs os pés para fora desse navio, nem nome possui. Ele é chamado pelo ano em que nasceu, 1900. Tornatore deve ter lido Kundera. Não por acaso, ele escolheu Ennio Morricone para compor a partitura musical de sua personagem-título.

Como se não bastasse a trilha, Tornatore nos presenteia com uma das cenas mais belas do nascimento do amor, usando a metáfora da música e a coincidência da presença de uma mulher, inesperada, no momento em que o pianista improvisava um solo para ser gravado. Do improviso musical no tema da vida desse pianista, da visão da mulher, do símbolo da finitude humana nas teclas contadas de um piano, em oposição ao ilimitado oceano, nascem o amor. É belo, é triste, é fugaz e vale a pena rever e ouvir 1900 vezes.

2 comentários:

  1. Anônimo15.11.10

    Pergunta abertaMostre-me outra »
    As lágrimas expõem os sentimentos e alivia o coração?
    ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

    Lágrimas de dor,
    Lágrimas de saudades,
    Lágrimas de ilusões,
    Lágrimas de felicidade...
    As lágrimas são os desabafos do coração
    Quando se chora o coração responde
    "Tenho medo de chorar,
    e parecer sentimental demais...
    mas eu não comando as lágrimas"
    Elas são atrevidas
    Querem expôr meus sentimentos
    E aliviar o meu coração.

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  2. Caro(a) anônimo(a), li e reli seu comentário, para tentar responder à questão e, como você disse, "mostrar outra". Bem, lágrimas, para mim, são um transbordar da alma. Choramos por tristeza, por alegria, de raiva, de susto, de alívio, de amor que começa, de amor que termina, de amor que recomeça, por vitórias, por derrotas, pelo luto... Acredito que choramos porque a alma, essa que nomeamos de coração e memória, está repleta demais de sentimentos; precisa extravasar, precisa jorrar, precisa, num suspiro e numa lágrima que seja, deixar fluir de si todo o sentimento recolhido, como a terra, depois de muita chuva, acaba drenando o excesso de água naturalmente. Bem, particularmente eu não tenho medo de chorar, nem de parecer sentimental demais, porque, afinal, sou sentimental demais. Então, choro de saudades, de felicidade, de ilusões que luto para concretizar e, aos poucos, mas bem aos poucos, confesso, alivio meu coração.
    Pergunta aberta: Se lágrimas são apenas um reflexo natural da alma, inundada de sentimentos, o que fazer de concreto, num presente palpável, para aliviar o coração?

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