12 de janeiro de 2011

(a)temporal

habitam-me nuvens gordas e baixas, um mil-folhas de cinza
cumulus prenhes de tempestades e vendavais
que tomam meu silêncio de assalto às trovoadas
e imploram pelo pranto torrencial das enchentes

arrebatam-me as insanas chuvas de verão
a iluminar os céus escuros da memória, porões do ser
com relâmpagos que rasgam o tempo feito chicotes
e expõem carnes, desnudam pensamentos

controlam-me a fúria das marés e a loucura das ondas
um oceano inteiro que meu infinito contém
mas escapam-me pelos olhos as ressacas do mar
que engole galés, as naus incautas do inconsciente


sobrevive em mim o contraste triste de cores e sombras
que tingem o horizonte logo depois do temporal
pinceladas vãs, por onde o sol morteiro tenta irradiar
a timidez branda dos raios mais insistentes

reinam em mim os ventos mais retumbantes
soberanos que destelham castelos e varrem paixões
mas que, exaustos da luta, bafejam no ar o perfume
vaporoso, cândido e fresco das manhãs

afloram de mim o calor e a sede dos desertos
mas também o frio glacial da solidão e da guerra
pois habitam-me continentes inteiros, mil estações
que governam o vasto de mim, furacão que o corpo encerra   

2 comentários:

  1. hot & cold... achei, assim, feito pra mim.
    mta identificação...

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  2. Por isso sempre digo: we're soul mates, hun.

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