22 de janeiro de 2011

humano

humano é tentar, atentar e gozar
tesar, escalar e sonhar
despencar, murchar, acordar
e dormir até a lua com o sol rivalizar

é humano gargalhar e inundar-se de lágrimas
o sal do mar infinito que a mim e a ti habita
humano é encher-se de orgulho e mágoa
pra bufar devagar e expelir o veneno que te agita

humano é ser filho e pai e mãe e genro
e não saber exatamente o que se é, para aonde vais
a quem pertence e a que deus servir
e perder-se em dédalos de onde tua fé extrais


é humano olhar para o meio dia do céu
e assombrar-se por não ver estrelas ali
sentir-se miúdo em meio a graúdos
que desconhecem o teu tupi-guarani

humano é ansiar pela solidão e, ao lado dela
perceber que sozinho não estás completo
mas que é num voo solo que entras no mundo
e nu, cego e só é que finalizarás teu trajeto

é humano esse teu medo da morte
da partida dos teus e da tua
porque não compreendes a finitude das coisas
que em tua alma imensurável nem a fé atenua

humano é a montanha, o mar e o verde que te cercam
e o perdão que ofertas mesmo a teu pior tirano
é humano tudo o que a tua vida orienta
pois não sendo-humano, és apenas mero marciano


para Lu, a mãe de Cindy e de todos os peludos abandonados, uma surpresa humana inesquecível.

2 comentários:

  1. "humano é ser filho e pai e mãe e genro
    e não saber exatamente o que se é, para aonde vais
    a quem pertence e a que deus servir
    e perder-se em dédalos de onde tua fé extrais"

    Essa foi a parte que eu mais gostei!

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  2. Eu também gosto demais dessa parte, musa. Beijo!

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