12 de janeiro de 2011

triângulo

pode-se fugir de quase tudo no mundo
embora escapar e postergar soluções
não seja aconselhável o tempo todo 
se você quiser ter crédito na praça

pode-se fugir de compromissos sociais tediosos
como jantares com os amigos da empresa
e o karaokê com seus primos do interior
até do natal, do ano-bom e do carnaval dá pra escapar

pode-se fugir de idéias obsessivas
que consomem a mente como a noite engole o dia
pois todo bom ser humano que se preza
tem um sótão trancado com seus fantasmas ocasionais

pode-se fugir do tempo e das marcas que ele traz
comendo grãos, peixe cru e outras iguarias do gênero
e correndo quilômetros sem sair do lugar
além de hipertrofiar músculos e embotar pensamentos


pode-se fugir até das mais honrosas responsabilidades
e comprar uma passagem só de ida pra Sibéria
onde o viajante há de se imobilizar num cubo de gelo flutuante
pra morar à deriva da vida, numa eterna pilhéria

pode-se fugir de si mesmo, ápice do escapismo
fechando as janelas para o sol, tampando os ouvidos para o dia
dá até pra cobrir os olhos, selar os lábios com breu
e deixar de ser humano pra virar um sonho de confeitaria

pode-se fugir dos pais, dos filhos e do entardecer
dá pra escapar ao chamado da guerra e nunca virar soldado
ou então fugir dos pedidos de paz e abraçar batalhas sem fim
mas não é tão fácil escapar do amor sob fogo cruzado

5 comentários:

  1. aaahhh (escute meus suspiros aí!) !!

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  2. Lindíssimo! Confesso que fiquei intrigada com o título.

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  3. Pois é, Fê. O título é esse mesmo. Ia ser "fuga", mas resolvi ser mais indireta ou "direta", dependendo do ponto de vista, do leitor, do tempo, da memória, do embate, enfim... Em poesia, tanta coisa é válida, não é?

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  4. Augusto Santiago14.7.11

    vim parar aki c/ escapologia revelada, embora poeta tentando ser ilusionista, nem beleza, nem fuga, ora meu perfil mágico suplantou o de poeta com redondilha maior, sem pontuação para forçar interpretação, pois me fico por aki sem mais comentários

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  5. Obrigada, Augusto. Escapologistas e poetas, somos todos, em maior e menor grau. Ilusionistas... Já tenho minhas dúvidas. Bem vindo ao Expresso. Viagens e comentários são sempre apreciados. Com redondilhas ou não.

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