9 de janeiro de 2011

crisálida

o sol brilha, escaldante e fluorescente lá fora
mas dentro do casulo, onde a pupa espera pela mutação
os raios fulgurantes não penetram

a crisálida resiste, insistente
e se prende à casca, do idêntico modo
como o caranguejo insiste em não rumar para o norte

mas o sol vai ficando mais rutilante
a medida que o dia ocupa sua majestade
e o pedacinho de lua que havia, volta a se esconder

e escondem-se todos, em retroalimentação
a lua, do sol, o presente, do futuro
e a noite, do dia, como a pupa, do calor

e, ainda assim, a redoma da vida que nos protege e cega
sabe que não se pode esconder do sol nem da chuva pra sempre
e a natureza entra-nos alma e consciência adentro, pra verdejar

nascem-nos brotos virgens na casca
flores nas pontas dos galhos cinza e retorcidos
e frutos polpudos e aromáticos no cerne do corpo

então a luz entra pela janela e cega-nos
pequenas toupeiras assustadas e prenhes de auto-comiseração
defendendo-se da vida, da trasmutação e da felicidade

mas, em seu tempo, vão-se embora o temor pusilânime
a insegurança e a mania de viver na aurélia
e a borboleta, aprendendo a voar e se afeiçoando às próprias cores...

flap, flap, flap...

... sai ao sol do meio-dia, a ganhar o mundo.

2 comentários:

  1. Você por aqui, Fê! Quanta honra! E que bom que comentou. Made my day! Obrigada e beijilhões!

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