4 de janeiro de 2011

quisera

"Dancer in Black", Fabian Perez

já quis ser bailarina ousada
cor, aroma e fruta
quis ser nuvem vazada
por um raio do poente

quis boiar em mar-alto
de olhos fechados, no sereno
e ter a sensação de andejar
numa via-láctea individual

já quis ser balão de hélio
mais leve que o vento e a pluma
ascender, colorir e inflar
para ver o mundo com olhos de formiga

quis ser âncora firme
forjada em cracas milenares
e manter a nau em curso
na mais violenta das vazantes

já quis ser pena de pavão
colorida e exótica
a enfeitar o chapéu-coco austero
de um burguês incrédulo

quis ser pai, filho, mãe e amante
num quadrilátero impossível
em sua obviedade latente
quando o espaço é tão exíguo, sempre

já quis ser doce gelado
queijadinha, figo em compota
quis ser canela, cravo e pimenta
e uma pitada de sal

mas o nó do desejo é que
quando já se quis muito
ou ainda se quer tanto
pode-se estancar no terreno do quisera

e não saber mais o que se é
ou o que se pode ser
nem o que se deveria ser
no segundo suspenso de um suspiro

              ...pff...

a exalar o bem de um mal-me-quer

4 comentários:

  1. Quando a poetisa fala, não há crítica - só admiração.

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  2. Posso morrer em paz agora. Mas tô longe, muito longe de uma poesia bem feita, amigo. Beijo infinito.

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  3. Até que enfim você voltou, amigo! Quer dizer, pelo menos pra cá! Já estava ficando blogsick, vai...

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