ah, eu quero tanto tanta coisa
que me disseram para não querer outrora
que fui levada a crer, com o tempo
que me era descabido querer...
ah, eu quero tanto sol na aurora
e vento pra me tornar semente
e me soprar para longe do milharal
para mais perto do meu mar...
ah, eu quero tanta risada e barulho
de gente translúcida feito véu
mas que não seja fantasma ou estátua
para me ensinar a festejar...
ah, eu quero tanto a distância de mim
para poder me olhar de longe
e perceber sem ninguém contar
que a saudade adoece mas não mata...
ah, eu quero tanto a lentidão da terra
familiaridade que me conforta e nina
mas quero também o mistério e o caos
frutos do tempo, dor que lancina...
ah, eu quero tanto não temer o horizonte
e a grandeza explícita que ele encerra
morada dos deuses e dos sonhos esquecidos
mitigados pelo passado que aprisiona...
ah, eu quero tanto uma porta, uma janela
por onde possa escapar e correr
a urrar de dor, vomitando os pulmões
para avisar a todos que eu posso...
ah, eu quero tanto um remendo nos cacos
uma lambida doce nas fendas
um colo manso para recostar
e um abraço infindo para morrer...
ah, eu quero tanto eco, tanta platéia
que me escute com atenção, sem reverência
e me diga quando parar, onde recuar
para eu não dizer mais do que interessa...
ah, eu quero tanta luz, em farta brancura
para guiar meus passos na noite das escolhas
e aquecer meus pensamentos no inverno das almas
para que eu seja sempre um porto, um abrigo...
ah, eu quero tanto a mim, mas não sozinha
e encontrar o meio que se perdeu no fim
arrancar as páginas borolentas, sem cor
e costurar novas, ávidas pelo recomeço...
ah, eu quero tanto tanta coisa
e nem sei se há tempo ou permissão
tanto quero, repito, ressalvo e conjugo
que às vezes me esqueço de que nem busco...
Experimente trocar o "querer" pelo "fazer". Você vai descobrir que nāo é tāo impossível quanto você quer acreditar que é ...
ResponderExcluirPose ser. Mas, então, o lirismo da poesia se perde.
ResponderExcluirPorém acredito que a vida poderia sair ganhando ... Por outro lado, como diria o personagem de Edward James Olmos em "Blade Runner"', Detetive Gaff, 'But, who knows?'
ResponderExcluirAh, a ciranda do querer! Nossa doce maldição, não? Quer coisa melhor e pior do que desejar?
ResponderExcluirQue bom que você voltou, menina linda, amiga linda!
ResponderExcluir