10 de fevereiro de 2011

Conversando com Roberta Rohen: Ciranda, Beta.

Não é só pra ela, mas é principalmente pra ela. É pra todos (na verdade, isso é mais coisa que atinge todAs) que ainda não descobriram esse véu, que ainda não descobriram que essa tal serenidade que lhe é intrínseca não é acomodação, é equilíbrio; que ainda não descobriram que essa tal força que lhes é sempre criticada não é inconseqüência, é ousadia; que essa tal teimosia que lhes é colocada como doença é vontade indômita de ser menos infeliz, de ser até, poxa, feliz. É pra essas mulheres que ficam caçando bem pra fora delas tudo com o que sonham, tudo o que mais desejam, tudo o que mais admiram, giram pra tantos cantos que vão sempre pra tão longe de si, pra tão longe de tudo o que já fazem real tão perto, tão certo. Elas têm o dom de construírem-se e reconstruírem-se, de tecer feitos mesmo incríveis, como até, poxa, outros seres lindinhos que saem de si, mas magicamente fecham seus olhos pra obviedade mais constante: o castelo, o templo, a árvore adorada em meio ao deserto, todas as fitas mil já estão em seus cabelos, coloridas. Como pode? É como quando naquela correria, naquele nervoso constante, naquele acúmulo de informações: dialética, carnê das Casas Bahia, eleições, condomínio, enchente, pontas duplas, goteiras, bateria que acabou, mãe que vem pro almoço, comprar presente pra sobrinho, dialética, dialética... e de repente você acha que perdeu o pente, corre pela casa atrás daquele pente, como pode sumir assim aquele pente, e você olha besta pra si e vê o pente na sua mão. Quem nunca fez isso? Tem gente que faz com a própria alma.


Ciranda Beta, nessa roda de não se querer,
Sem saber-se borboleta
Gira e volta Beta, em seus arredores
Farta-se do que de si haveria de amar:
Ciranda, Beta, que essa é sua faceta.

Ela roda ventos e mares,
Aos montes com seus desejos
Prende-se à terra de não lhe pertencer,
Ela roda quereres mil de se fazer
Em cantos e encantos mil
Ciranda Beta pra longe de seus ensejos.

Carrega ela a dança quando
Da leveza sua se esquece 
E passar a cirandar pra fora de si
A buscar, tola, coisas de dentro de casa
Pelas calçadas e construções,
Ciranda Beta, ergue da busca vã uma prece.

Brinca de falar sobre o medo, Beta,
Diz-se da eternidade não mais seus olhares,
Mas o torpor de deuses que não dançam
Ela faz lápide de seus lábios,
Faz cárcere do que lhe são mãos e pés,
Ciranda Beta, faz morada pra longe de seus lugares.

Beta quer e vive a querer-se 
Consagra o rosto seu em cada vontade
As vontades de Beta são todas de si,
Curva e mais curva ela faz a se buscar
Num desencontro constante
De quem ignora que já está ali.

Ciranda, Beta, ciranda pra perto,
Roda pra fora do que te rodeia,
Que pra fora daí é pra dentro de ti.

Um comentário:

  1. Sem palavras. Você me mata qualquer dia desses, amiga da minha alma, irmã de pena, de credo e de cruz. Amo você.

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