22 de março de 2011

Apelo [Conversando com "Morte", de Beta]


Ela desliza em seu jardim, 
O cemitério,
Da terra um dia ela fez
Nascer flor, mas terra ela socou
Por cima, e então mais terra
Ela fez a cobrir.

Ela desanda em seu jardim,
O cemitério,
No que antes em camadas sorria,
De camadas era feito,
No que vida jazia,
Agora jazigos imutáveis,
Ela confronta sem diamantes ou minerais.
Não, não morra em vida,
Não converta em pó o rosto,

Não aceite o pálido sobre a cabeça.
É um apelo de vida essa morte,
É a vida que se vai dos corpos
Que não mais a comportam,
Aos que ainda caminham em passos
Concretos e pulsantes
Clamando ser inserida, reinserida.
Ela anda por seu jardim,
De flores esvanecidas,
Vidas tantas desconfiguradas,
Vida resetada, vida em marco zero.
Não morra em vida,
Não permaneça pálida,
Em suspiros últimos vidas inteiras

Sopraram em suas veias,
Na esperança de que se fizesse
Sol, fizesse sangue, fizesse roda.
Odeie as caixas de madeira, imensas,
Quebre as lascas, uma por uma,
Destrua, desaceite, desconstrua
A morte, sua caixa de madeira,
Odeie a morte em vida.
Não morra um poema pálido.

Um comentário:

  1. Para variar, chorei. E você ainda musicou a poesia com uma canção que sempre tocou no meu repertório...

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