5 de março de 2011

Do meu não-direito



As pessoas se maltratam de tudo quanto é forma, em tudo quanto é estação. A minha estação é a da super-auto-exigência. É de uma crueldade sem fim isso. A pessoa perde a noção de que melhorar pressupõe aceitar que há algo de errado e, mais além, de que isso deve ser natural. Por que eu não consigo ver essa naturalidade? Pode vir pra mim e me contar que matou, roubou, abortou, falou mal dos Beatles, tudo quanto é tipo de crime eu compreendo. É natural melhorar, logo, é natural ter algo fora do lugar. Mas, quando chega a minha vez, não; aí não tem condições, não há condição que me faça aceitar. Não sei como cheguei nessa rigidez, nesse peso absurdo de me ditar agora pelo que um dia naturalmente alcançarei. Alguém aí faz isso também? Por favor, diga-me alguém que se açoita com o mesmo mecanismo. E me dê um sorvete, e uma praça, onde as pessoas brinquem e caiam, e tenham feições humanas, como as minhas, e me provem que somos humanos, que sou humana, que brinco e caio na mesma praça.

e que direito tenho eu
de me julgar assim,
tão de cima?
que direito eu posso 
guardar sobre mim,
assim tão austera
se é tão isso o que
me consome...
minha falta de 
austeridade.
que direito tenho eu
de me apontar esse dedo,
de me sublinhar os defeitos,
de me calcular os danos,
de me desenhar em rascunho.
que direito tenho sobre mim
de ditar-me a imperfeição
se da imperfeição me faço
e me aperfeiçoo?
como assim, isso de me 
exigir falas dos deuses,
de me articular só de pensares
sublimes, só de causas extremas.
deixe que os pais, e os deuses,
deixa que o alto se mostre de cima,
deixe lembrar que eu sou
daqui de baixo, tentando subir.
que direito tenho eu de conhecer-me
em capacidade só latente
e desconhecer-me em condição
presente?

3 comentários:

  1. Tenho uma resposta a essa poesia. Aguardem.

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  2. Anônimo7.3.11

    Ai, deu arrepio!
    Eu quero.
    Logo!

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  3. Calma. Sai ainda hoje. Essa tá ardendo o peito pra produzir...

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