3 de março de 2011

da graça



[Isso de ter de decidir, dizem que começa no pensamento. Mas fica me coçando isso de ter que decidir o que eu penso sobre tudo, todo o tempo. E a origem das coisas? Sabe... aquela essência. Vem e bate a sensação, o pensamento se materializa dali, ali, porque está ali, isso de criar o conceito a partir do conceito, isso de estruturar as diretrizes porque elas precisam estar, porque elas precisam ser estabelecidas, porque se não estabelecidas nada pode prosseguir. Porque eu não olho pras coisas quando elas são coisas de verdade, e decifro suas imagens verdadeiras, porque eu não dou risada do que já é engraçado? E fico criando a graça... e a graça ri de mim. Quero rir da graça. Por que tem de ser assim, tem que ser sim de uma vez, ou tem que ser não de outra? Por que não só ser?]

e se eu decidisse que o bom mesmo é ter graça,
que o bom mesmo é ser engraçado?
e se eu me decidisse pela graça tão somente,
que a graça é só rir-me e rir-mos e sermos engraçados?
e seu decidisse que não sou nem existo sem graça?
que é mesmo engraçado ser e reconhecer-se,
construir e desconsertar-se.
contudo, e se eu me decidisse por sonhar-me?
clichês e clássicos, antigos e tradicionais.
eu sou careta, de quando amar era a ordem.
e seu eu decidisse que bela é a bagunça,
que verdadeiro é o erro,
que sagrado é tropeçar?
e se eu dissesse que é bonito ser feio 
que certo é mesmo ser torto.
olha e atenta pra ordem que há,
pra que deveria haver,
por que hei eu de andar em linha reta?
é costume meu amar o estranho,
ser estranha com amor,
é costume meu ser do contra.

Um comentário:

  1. "eu sou careta, de quando amar era a ordem". Eu sou do tempo em que a maior graça que havia era sentar na varanda da fazenda, em plena noite de verão, e ficar olhando os vagalumes dançar, iluminando a várzea e a plantação de arroz. Pra onde foi essa graça, menina Ivy? Cadê a graça que meus olhos viam...?

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