15 de outubro de 2010

Corre, que o sol vai se por!

Tudo que é belo, é fugaz. E meio melancólico, também, exatamente pela consciência que se tem da fugacidade do belo, da inexistência do eterno, mesmo que se lute para preservar um momento e um sentimento, uma época, um tempo. Tempus Fugit, não é assim, Rubem?

A criança é bela e a gente já olha para ela sabendo que vai crescer, escorrer por nossos dedos e caminhar seus próprios caminhos e trajetórias que nem se pode adivinhar. A criança é bela e fugaz. Tão bela e tão momentânea que o peito da gente dói, transbordando de uma alegria triste, alegria que faz chorar, tristeza que há de fazer renovar.

Assim também é a chama de uma vela, tremulando à mais serena brisa. Bela e fugaz e triste é a flor da manhã, esta que se abre ao primeiro raiar do sol e morre ao final do dia. Diariamente, nessa fugacidade linda e sem fim. Belo e triste é o amor da juventude, o primeiro, que nunca há de ser o mesmo, exatamente porque pertence àquele retrato amarelado da mocidade, ainda que outros e maiores amores brotem no jardim.

Belíssimo e absolutamente fugaz é o voar da andorinha e o mergulhar da gaivota no mar à caça do peixe. As folhas da sapucaia balançando ao vento, que a gente quase nem percebe, e a explosão rosa que a árvore nos proporciona ao olhar, tão fugaz, tão linda...

Fugaz é o nosso próprio olhar que, num piscar, perde uma nuance de tom colorido do poente de verão. Por isso o por de sol é tão lindo, tão triste e tão único. Não há um só poente igual a outro no mundo. São todos diferentes, um presente da natureza que leva apenas alguns minutos para morrer no oeste, pintando as nuvens do céu de lilás, rosa e alaranjado.

E fugaz, da velocidade da luz mesmo, é a vida. Ainda mais rápido que o sol ela se põe. E se não se abrir bem os olhos e correr atrás dela, perdem-se os melhores detalhes, as mais belas nuances, os trens mais importantes. Essa verdade atingiu-me como um tapa na cara hoje, quando tentei fotografar o sol se pondo. No azulado do firmamento, ele era uma bola imensa de fogo, vermelha e linda. Como não ficar triste ao se saber que ele vai se por e que o vestido negro da noite logo vai se estender no céu...?

Ainda assim, estiquei o tempo até o último momento, para evitar parar, para chegar mais cedo, porque achei que talvez, apenas talvez, Deus fosse generoso comigo e imobilizasse aquele poente lindo para mim, só para que eu pudesse fotografá-lo. Mas não é assim que a banda da vida toca. É esperando pela paisagem perfeita que se perde a foto, é esperando pela decisão mais acertada que se perde o bonde do futuro, que se esquece da fila, que não se dá ouvidos ao chamado cristalino do coração.

Quase perdi esse poente. Se eu tivesse parado no primeiro momento em que aquela bola de fogo pendurada à minha direita prendeu meu olhar, eu teria uma fotografia mais fidedigna para "congelar" na memória. Aqui, o que se vê é um sol já sonolento demais, um olho vermelho pronto para se fechar. Quase perdi, mas ainda consegui uma boa foto. E, com o vento já frio a me arrepiar a pele, fiquei fazendo-lhe companhia, ou ele a mim, até que se tivesse ido por completo. Foi-se belo, inesquecível, fugaz e triste. Alegre-triste, como todo por de sol. Como toda criança, como o amor, como o pássaro, como a vida da gente.

2 comentários:

  1. eu não sei porquê, mas acho que o brilho do Arthur não é fugaz...!!

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  2. Deus te ouça, irmã. Chorei com esse comentário seu. Obrigada pela carícia.

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