Se você sofre de onicofagia, relaxe. Pimenta não adianta. Só é boa mesmo nos olhos, e não nas unhas, dos outros. Nada de besuntar seus dedos com coisas amargas. Já basta a vida! Tente por um pouco mais de amor no seu dia. Às vezes a roeção de unhas cessa com amor. Ou com trabalhos manuais, nunca se sabe.
E depois, com tanta coisa muito mais séria no mundo para a gente se preocupar, para que se repreender por um vício tão inofensivo? Auto-crítica demais dá um nó nas entranhas e atrapalha o andamento da vida, companheiro. O Lamartine Babo, um dos maiores compositores da boa música brasileira, clássicos como operetas, sambas, valsas e marchas, não roía unhas. Mas era magro feito um vara-pau. Contam que dava até para tocar reco-reco nas costelas do Lamartine.
Mas, além de magricelas, Lamartine era da boemia, um namorador irrecuperável, poeta até o último fio de cabelo, daqueles que faziam as maiores aventuras na Lapa. Um dia, um amigo tentou aconselhar Lamartine: "Meu grande Lamartine, desse jeito não dá. Você tá muito sem juízo. Você apronta muito, irmão. Tá na hora de cair em si!"
Mas Lamartine, de humor muito rápido e sabedoria infinita, apenas sorriu para o amigo e respondeu: "Meu velho, eu sou tão magro, mas tão magro, que se eu cair em mim, eu caio fora...". Estava ali um sujeito que sabia preservar a própria identidade. Um sujeito que sabia viver, sem se deixar abater pelas assombrações da crítica, ou da auto-sabotagem. Magro, boêmio, roedor de unhas ou não.
Se lhe serve de consolo, não dá para a gente ter essa leveza do Lamartine. Agora, olhe só, a coisa é rara, mas cachorros, nossos melhores - e verdadeiros - amigos, também roem unha. E são belos e amáveis em sua magreza e feiúra únicas, exatamente o que nos faz amá-los. Quer ver? Tá aqui a prova.
A Shelly não está só lambendo a patinha, não. Está roendo as unhas mesmo! O diacho é que eu não consegui postar o vídeo, com áudio e tudo o mais, para matar a cobra e mostrar o pau. Enfim...
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