15 de outubro de 2010

Sutil(ev)eza

Esta é a delicadeza, o mimo de flor cor de salmão que enfeita o quintal de minha tia. Ela não sabe o nome da árvore, nem eu. Ganhou a muda de um genro, que a trouxe não se lembra mais de onde. Ela a apanhou do chão com as próprias mãos para que eu a visse de perto, sem nem ao menos se lembrar da coluna que às vezes lhe dói e encurva.

As mãos de minha tia já acariciaram dezenas de netos, bisnetos, filhos, sobrinhos, amigos, gatos e cachorros. São mãos que, até hoje, acariciam, acalentam e plantam. Quando conversamos, minha tia e eu, falamos de ipês, violetas, sapucaias, roseiras, figueiras e grama. Contamos casos que já passaram. Lembramo-nos de pessoas queridas que não vão poder ver essa árvore mas que, de alguma forma, habitam suas folhas e raízes. Falamos de canjicão, doces de compota, sopas quentes, leite morno e rapadura temperada. Sempre foi assim. E não vejo porque mudaríamos prosa tão gostosa como essa. 

E a delicadeza dessa pequenina flor é a própria sutileza e a fragilidade de minha tia que, com suas memórias, sua fé e sua família, torna-se a cada dia mais imensa e forte, memorável e centenária, um tronco para nós todos, agitados à sua sombra serena. Às vezes, só às vezes, acredito que vale a pena envelhecer; se você, como minha tia, envelhecer para virar flor ou uma árvore coberta dessas minúsculas, delicadas e lindas florzinhas.  

2 comentários:

  1. acho que vou envelhecer cheia de delicado na barriga!!! vou ser uma velhinha chubby! =]

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  2. Eu acho que vou envelhecer seca, com cabelo no queixo e um monte de verrugas. Você, doce, linda e chubby, toma conta de mim, bruxa?

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